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Corações Aquecidos | Parte IV

Carmem Tsuruko Abe

Após três meses de meditação diária na Igreja Shingon (crista nestoriana, adaptada ao budismo), num corpo a corpo com a sua crise existencial, o jovem Kinzo Uchida clamou desesperado na semi-escuridão do templo: “Oh! Deus Vivo! Se tu, de fato existes, ensina-me o significado da vida!”.

A resposta veio imediatamente, numa visão: um par de ohashi era levado pela correnteza de um rio. Em seguida ouviu uma voz: “Esta é a sua vida, vá a São Paulo!”

Kinzo já havia visto fotos da América do Sul numa exposição escolar, e São Paulo lhe parecia quase que familiar. Inscreveu-se juntamente com seu amigo Ryoshi lizuka e mais 748 jovens para um curso de liderança de imigrantes. Destes, 23 foram selecionados para um curso de três anos no Instituto Agrícola de São Paulo. Kinzo Uchida figurava como o primeiro da lista, seguido por lizuka, mais tarde pastor da Igreja Presbiteriana Independente.

Aportaram em Santos no dia 27 de Agosto de 1933. Em 1936, após seu curso concluído, lá estava Kinzo, na capital paulista, batendo de porta em porta à procura de emprego. Passou frio e fome. Nessa época de extrema penúria, foi acometido de uma terrível dor de dente. Quando perambulava desnorteado pelo centro de São Paulo, por incrível providência divina, reencontra seu velho amigo lizuka, radiante de alegria. O coração de lizuka estava maravilhosamente aquecido. Ele havia conhecido um dentista japonês que lhe apresentara Jesus Cristo, o Salvador! Fez questão de encaminhá-lo imediatamente ao Consultório Murakami, onde clinicava o dentista evangelista, Hiroyuki Hayashi. Após um tratamento dentário, era de praxe o tratamento da alma. Órfão de pai aos três anos de idade, Uchida se impressionou com a parábola do filho pródigo. Reconheceu com grande emoção na pessoa de Deus Filho Jesus Cristo, o único caminho ao coração do Deus-Pai de amor.

Acolhido e discipulado por Hayashi e Nishizumi, o dinamismo extrovertido de um kendôka (praticamente de kendő, esgrima japonesa) segundo grau foi todo canalizado à vida de oração e evangelismo.

Em 1938, Kinzo se matricula no Curso Preparatório de Teologia Conceição, de Jandira. Para pagar seu curso, arrenda um pequeno lote de Shiniti Yamamoto e inicia o plantio de hortaliças e legumes. Yamamoto se impressiona com a vida consagrada do jovem Kinzo e o convida para um “papo informal”. Kinzo abre sua Biblia em Lucas 15. Aquela mesma parábola do filho pródigo que emocionara o jovem Uchida, alcança o coração de Yamamoto. Foi o início da Igreja Metodista Livre de Jandira (1947), mais tarde Igreja de Itapevi (1954). Apesar de dificuldades no manejo da lingua portuguesa, Kinzo forma se pela Faculdade Teológica Metodista de Rudge Ramos, em 1947.

Casando-se com Tazuko Takiya, em 1948, a visão do “par de ohashi” toma sentido. O casal dedica-se à evangelização em Lucélia por três anos (1950 a 1953). Em seguida os dois seguem para Lins, onde o trabalho é bastante abençoado. Corações aquecidos de pastores como Takero Oshima e Mitsuo Nagata, além de muitos outros leigos que exercem liderança em diferentes igrejas locais, são prova cabal de que quem escreve a história é o próprio Deus. Kinzo Uchida, hoje pastor emérito da Igreja da Liberdade, e Tazuko sua esposa, continuam inseparáveis no serviço do Senhor.

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver so; pois, caindo, não haverá quem o levante.”

Eclesiastes 4:9-10

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