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Corações Aquecidos | Parte III

Carmem Tsuruko Abe

“Japa, quinta-coluna, olhos rasgados”, era como chamavam os japoneses e seus descendentes, considerados inimigos da Pátria, durante e após a Segunda Guerra Mundial, ocorrida na década de quarenta.

Quaisquer agrupamentos de orientais eram tidos como suspeitos. A lingua japonesa, escrita e falada, era expressamente proibida, com alto risco de prisão e até o confisco de bens. Foi neste contexto que Massao Kinoshita, o primeiro advogado japonês, formado em 1935 e credenciado pela OAB em 37, desenvolveu uma profunda amizada com Massayoshi Nishizumi. Participavam em atividades assistenciais, movimentos e programas pró-resgate da (identidade) nipônica. Era uma luta ferrenha contra iminente degradação psicológica e moral dos colonos nikkeis.

Em meio ao fogo cruzado dos “katigumi”, grupo radical que afirmava a invencibilidade nipônica e dos “makegumi”, grupo mais moderado, que afirmava a possibilidade de derrota, Kinoshita tentava desesperadamente apaziguar os ânimos da colônia e se irritava com a insistência do amigo Nishizumi, que afirmava ser Jesus Cristo, o instrumento de ação mais eficaz para enfrentar estes problemas. “Kinoshita, você precisa orar pelos nossos conterrâneos”, repetia Nishizumi.

No dia 26 de junho de 1946, Nishizumi faleceu num acidente de trânsito, mas o eco de sua voz persistiu no coração de Kinoshita. “Você deve orar! Você deve orar!”.

“É a oração de fé que salvará o enfermo e o Senhor o levantará!”

Tg. 5:15

Kinoshita se rendeu ao pé da cruz, reconhecendo definitivamente o senhorio de Jesus Cristo. Consagrou-se ao Senhor e, de joelhos dobrados, começou a orar pelo povo japonês. Povo este que viera ao Brasil para substituir a mão de obra escrava, e que sobrevivera aos maus tratos, agarrando-se ao sonho de voltar à terra do sol nascente, que nesta época se encontrava destruida pela guerra.

A agressividade com que defendia a causa dos nikkeis, passou a ser temperada com o fogo do Espirito Santo. Tornou-se militante da expansão do Reino de Deus. “Nishizumi foi o grão que caiu na terra para que eu me despertasse para a fé”. testemunhou Kinoshita.

Pastor desde 1965, concluiu seu curso teológico por correspondência, tornando-se presbitero aos 71 anos de idade. Aos 80 anos, escreveu e publicou dois volumes em língua japonesas sobre os Salmos. Poucos dias antes de falecer, aos 91 anos, pregou seu último sermão na Igreja Metodista Livre de São José dos Campos.

“Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e verdor para anunciar que o Senhor é reto”. 

Sl.92:14 a 15.

ERRATA: O primeiro nome de Murakami é Shinichiro e não Shumatsu, como foi publicado na edição de fevereiro.

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