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Corações Aquecidos | Parte I

Carmem Tsuruko Abe

Anglicano religioso, ritualista ao extremo, metódico e perfeccionista, Wesley fora filho exemplar, estudante notável e missionário zeloso. Entretanto, lá estava ele, com seus 35 anos, amargurado, escrevendo em seu diário: “Deveras, o que eu menos esperava é que eu que fui à América para convencer a outros, eu mesmo não era convertido, mas um alienado da vida de Deus, um filho da ira e um herdeiro do inferno”.

Felizmente, para Wesley e para nós metodistas, Pedro Bohler, o moraviano, ousou discipulá-lo. Suas concepções sobre a salvação pela fé e conversão instantânea foram consolidadas intelectualmente. Só lhe faltava a experiência pessoal para validar a teoria. Foi quando na noite de 24 de Maio de 1738, numa pequena reunião da Aldersgate Street (Londres), ouviu a leitura do prefacio de Lutero à carta de Romanos, descrevendo a mudança que Deus opera no coração, pela fé em Cristo. Wesley sentiu seu “coração maravilhosamente aquecido”. Confiava em Cristo e estava finalmente seguro de sua salvação. Estava em paz com Deus, conforme registra em seu diário de 25/05/1738: “No momento em que acordei, Jesus Senhor estava em meu coração e na minha boca; e descobri que toda a minha força dependia de fixar o meu olhar nele e a minha alma esperar nele continuamente”.

O “coração aquecido” de um ferreiro, Francisco Asbury, filho de jardineiro ambulante, levou a chama metodista aos Estados Unidos em 1977. Chegando lá, uniu-se ao seu trabalho Thomas Coke, 37 anos, filho de médico e bem apessoado advogado. Assim, o movimento dos “corações aquecidos” estava definitivamente instalado na América.

Quando Teikiti Kawabe, um japonês aventureiro e ambicioso de 22 anos, aporta em São Francisco em 1887, a herança do “coração maravilhosamente aquecido” já o aguardava na Igreja Metodista Episcopal para transformá-lo no incansável evangelista dos seus patricios que trabalhavam na construção da estrada de ferro, ao longo de Washington, Idaho e Wyoming. Kawabe retorna ao Japão com a herança wesleyana e associa-se à Missão Metodista Livre. Perspicaz e ousado, aproveita a realização da Exposição da Indústria Nacional, em Osaka, para promover uma grande campanha de evangelização. A chama do Evangelho de Jesus Cristo dá origem à Primeira Igreja Metodista Livre de Osaka, de onde saem, para vir ao Brasil, os nossos pastores Nishizumi (1928), Hayashi (1934), Shimizu (1938) e Ono (1939), batizados por Kawabe e herdeiros do seu espírito missionário e evangelístico.

Em 1928, quando Massayoshi Nizhizumi, com 30 anos, recém- formado pela Faculdade de Teologia Metodista Livre de Osaka, decide vir ao Brasil, os irmãos leigos Wada, de 70 anos, próspero comerciante, e Mita, 18 anos, se oferecem para acompanhá-lo a fim de lhe garantir o suporte financeiro. E. de fato, Wada, apesar da idade, cultivou terras, plantou verduras e frutas, oferecendo todo seu ganho para Nishizumi. O jovem Mita aplicou-se igualmente na lavoura, sustentando a obra evangelistica pioneira. O próprio Nishizumi passava, frequentemente, horas embaixo da máquina seletora de café fazendo manutenção, a fim de ganhar alguns trocados extras para o trabalho missionário.

Descendente de samurais do Feudo Matsudaira, filho de intelectuais bem situados, Hiroyuki Hayashi recebeu educação esmerada. Um culto ao ar livre levou-o a conhecer Cristo num impacto altamente emocional. Seu coração ficou em chamas. Discipulado pela Sra. Hirahara do Barckley Baxton Evangelistic Band, foi por ela encaminhado à Igreja Metodista Livre de Osaka, onde foi batizado por Kawabe. Recebeu forte influência do pastor carismático Shunzo Takeda do Evangelistic Band. “Santificação e batismo do Espírito Santo” foram os temas que o jovem dentista mastigou, digeriu e tomou posse como preciosa herança do “coração aquecido” wesleyano.

Foi do encontro providencial de Nishizumi e Hayashi, na capital paulista, que nasceu a primeira Igreja Metodista Livre do Brasil, em 1936.

(continua na próxima edição)

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